Christian Nobre, especialista em cybersecurity e autor dos estudos TGT ISG, explica que decisão não é surpresa e não deve impactar o Brasil
Os EUA planejam proibir a venda de software antivírus da Kaspersky devido a supostos vínculos com o Kremlin, vendo isso como um risco para a infraestrutura americana. A proibição, que entra em vigor em 29 de setembro, impedirá a venda e a atualização do software da Kaspersky nos EUA. A empresa nega qualquer ameaça à segurança dos EUA e pretende buscar ações legais contra a proibição. A medida é baseada em poderes da administração Trump para restringir transações com empresas de países “adversários” como Rússia e China. Vendedores que violarem as restrições enfrentarão multas, e as unidades russa e britânica da Kaspersky serão listadas por suposta cooperação com a inteligência militar russa.
Segundo Christian Nobre, especialista em cybersecurity e autor dos estudos TGT ISG sobre o mercado nacional de fornecedores de serviços em cybersecurity, a sanção é uma jogada estratégica, semelhante ao bloqueio de itens de comunicação 5G da China, visando prevenir espionagem, já que esses softwares são muito poderosos e podem ser usados para fins não legítimos. “Esse assunto já vem sendo discutido desde 2017, quando os Estados Unidos proibiram o uso das ferramentas da Kaspersky por órgãos federais. No entanto, os estados e muitas empresas nos EUA continuaram usando o software. Com o início da guerra, esperava-se que a Kaspersky fosse um dos alvos das sanções contra empresas e empresários russos, mas isso não ocorreu. A Kaspersky criou centros de transparência no mundo, incluindo um no Brasil e outro na Suíça, para onde transferiu formalmente sua sede. No entanto, 80% da força de trabalho da empresa ainda é russa, e a Kaspersky domina cerca de 90-95% do mercado de antivírus na Rússia. Isso mostra o forte vínculo da empresa com o país”, explica.
Christian comenta que a comunidade entende que não há provas contra a Kaspersky e o que está acontecendo é um “intrincado jogo de xadrez” entre Estados Unidos e Rússia, envolvendo também a China, para prevenir cenários piores no futuro. “Essas ações prejudicam a Kaspersky, mas no Brasil não há indicações de que os produtos serão banidos, a menos que haja pressão dos EUA se a guerra na Ucrânia se intensificar. Um analista da Alemanha destacou as duras consequências da guerra para o país, como a interrupção do fluxo de gás e o aumento dos custos de energia. A posição dele é que a Kaspersky deveria ser retirada das recomendações até que haja uma decisão clara sobre a empresa. No entanto, não há nada comprovado contra a Kaspersky, e o centro de transparência criado pela empresa não foi refutado. Em um cenário de segurança cibernética complexo, a confiança na Kaspersky é tão válida quanto nas empresas americanas. A situação é um jogo de xadrez e deve ser discutida com cautela”.
O especialista reforça que a retirada da Kaspersky de recomendações deve ser feita de forma sensata e baseada em análises técnicas, não políticas. “Enquanto a Alemanha e a União Europeia não banirem a Kaspersky, ela deve continuar sendo considerada. Não há evidências claras contra a empresa, e o centro de transparência é um passo positivo. No complexo mundo da segurança cibernética, empresas americanas, russas e europeias têm presença global, e a preocupação com uso indevido de tecnologia é válida para todas”, finaliza.