Opinião

Transformação digital trouxe para o marketing das agências a necessidade de criar processos, checklists e padrões

*Por Daniel R. Bastreghi

Se antes as estruturas orgânicas funcionavam bem para o marketing na mídia tradicional, a transformação digital trouxe a necessidade de padronizar alguns processos para garantir que as campanhas impactem os clientes e as pessoas certas. Para enviar um simples e-mail marketing, por exemplo, hoje é necessário garantir a qualidade do mailing, a segmentação de público correta baseando-se em filtros de dados, o respeito às leis de privacidade e configurações complexas de DNS, e integrações de sistemas para assegurar a boa entrega do conteúdo.

Junta-se a isso o desafio de que as agências precisam ser constantemente criativas, pois isso está no DNA do marketing e da comunicação. É sempre necessário adicionar elementos novos em cada entregável, pensando que cada cliente tem especificidades únicas: identidade visual, preferências, ferramentas. Nesse contexto, cada demanda possui suas próprias particularidades, então, como manter uma frequência razoável de entregáveis e garantir a produtividade do time com qualidade?    

Penso que as agências de marketing podem se inspirar bastante nas empresas de tecnologia, pois percebo que ambas compartilham contextos semelhantes: necessitam fazer entregas rápidas, com qualidade e bom nível de inovação; lidam com o intangível e com crescente complexidade; e utilizam-se predominantemente de capital humano. As agências de marketing e comunicação podem aprender muito sobre organização e inovação olhando com maior profundidade para as organizações de tecnologia, principalmente porque a transformação digital elevou a exigência de requisitos técnicos para o mundo do marketing, aspectos que não costumam fazer parte da formação de publicitários, designers e criativos, mas que são importantes para atingir bons resultados.

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Seja numa equipe de tecnologia ou de marketing, o ativo principal são as pessoas, que despendem tempo de trabalho e talento. Apesar de esse primeiro recurso ser um custo que precisa ser gerenciado, pois é ele que vai garantir a saúde dos projetos e o lucro das agências, é importante não exagerar. O uso excessivo de planilhas de tempo, por exemplo, pode levar a um micro gerenciamento ou à coleta de dados desnecessários, que não serão analisados no futuro. Nesse contexto, alguns profissionais sentem-se sufocados por controles rígidos e isso pode prejudicar a criatividade deles, uma vez que nunca se sabe quanto tempo será consumido até que uma boa ideia emerja.  

Dessa forma, cada empresa precisa encontrar o melhor equilíbrio, de acordo com o teor de suas atividades e a necessidade de gestão, para fazer o gerenciamento de tempo. Aqui, até mesmo o ócio criativo deve ser considerado, pois produtividade não é pressão, afobação ou pressa. Ela é o uso diligente do tempo e dos recursos, primando pelo que no final fará sentido e trará benefícios. Nesse sentido, se a criatividade requer ócio, o ócio precisa ser considerado como parte do processo produtivo. Mas, além disso, tem algumas outras estratégias que podemos considerar:

1.      Para estimular o foco, force o lançamento de tempo em blocos de 30 minutos, como um pomodoro. Isso estimulará as pessoas a agruparem as atividades por projetos ou clientes para que mensurem o consumo de tempo mais facilmente e percebam quantos minutos, em média, precisam para fazer cada tarefa.

2.      Estipule uma estimativa de tempo para cada demanda e combine com a equipe que, caso seja necessário extrapolar o tempo estimado, ela deve justificar isso em um campo de comentário. Isso fará com que ela reflita sobre a forma como está consumindo o tempo.

3.      Bloqueie um horário semanal seu para revisar os lançamentos de tempo.  Ao fazer sua parte, demonstrará disciplina e seriedade na revisão dos lançamentos para instalar esta cultura nos colaboradores.

4.      Para procedimentos mais técnicos, crie checklists. Em atividades reconhecidas pela altíssima qualidade, como aviação e construção civil, onde erros podem causar perdas imensuráveis, os checklists estão sempre à mão e tornam-se ferramentas essenciais. Lembre-se que checklists precisam ser curtos e práticos.

5.      A gestão a vista é sua aliada. Crie painéis de monitoramento dos tempos lançados por cliente ou demanda. Deixe-os a vista, de modo que todos possam acompanhar os lançamentos e ajudar a identificar inconsistências.

Além disso, podemos considerar ainda o uso da inteligência artificial, principalmente a generativa, para reduzir o esforço e elevar a qualidade da entrega da equipe. Aliás, de acordo com uma pesquisa da IDC, a aplicação da IA Generativa a uma série de tarefas de marketing empresarial resultará em um aumento de produtividade estimado de mais de 40% até 2029.

No entanto, é preciso fazer isso com responsabilidade e considerar que ainda estamos compreendendo todas as implicações do uso dessa tecnologia. Nesta etapa, como parte da gestão, a função é assegurar que o conhecimento interno sobre a ferramenta se espalhe o mais rápido possível e que exista boa absorção do conhecimento externo. Crie workshops recorrentes para:

  • Reconhecer bons casos de uso de IA em sua equipe;
  • Colaboração e compartilhamento interno de ferramentas e novas funcionalidades;
  • Treinamentos;
  • Discutir limites legais e éticos para uso da IA;
  • Brainstorming de tendências e impactos gerados pela IA.

As agências que cuidam da produtividade e da gestão de tempo das equipes verão melhor colaboração entre os membros do grupo e menos atrito causado por processos ineficientes e erros que poderiam ter sido evitados. Verão ainda um ambiente com relações mais leves e saudáveis. Tais agências terão mais lucro, pois possuirão maior controle sobre seus custos. Por fim, estarão mais capacitadas a apresentar resultados para seus clientes e provar o ROI de seus esforços.

*Daniel R. Bastreghi é sócio administrador e Consultor de Marketing na DRB.MKT, atuando com orientação e assessoria de planejamento estratégico, estruturação comercial, implantação de CRM, inbound marketing, ações integradas de marketing digital e pesquisas. Sendo assim, é a fonte ideal para falar sobre tendências do setor, social media, influenciadores, produtividade e gestão.  Daniel é MBA em Gestão de Projetos e especialista em Planejamento e Gerenciamento Estratégico.

Fonte: Mondoni Press.

Ética e IA no marketing: um desafio para além da proteção de dados

*Por Fagner Souza, gerente jurídico da SIS Innov & Tech

O uso da inteligência artificial (IA) no campo do marketing tem sido transformadora, mas traz consigo uma série de desafios éticos que demandam nossa atenção. Enquanto exploramos os benefícios e potenciais da IA nas estratégias de marketing, é imperativo que também consideremos suas implicações éticas e sociais.

Alguns desafios rondam esse dilema. Como substituição potencial do trabalho humano pela automação alimentada pela IA, replicação de padrões indesejados pela IA e, talvez o mais importante, as preocupações sobre privacidade e autodeterminação.

Neste último, a interconectividade de dados possibilitada pela IA pode representar um risco para a privacidade dos consumidores e sua capacidade de tomar decisões informadas. Os profissionais de marketing e as marcas precisam priorizar a transparência e a proteção dos dados dos consumidores, garantindo que suas informações sejam utilizadas de maneira responsável e ética. Quando usadas de maneira incorreta, em todo caso, toda a responsabilidade jurídica recairá naquele que é o dono da campanha, independentemente do meio utilizado.

Em relação à legislação, é fundamental respeitar os direitos de informação estabelecidos pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e pelo Direito do Consumidor. Embora o uso da IA em campanhas de marketing possa não exigir informações adicionais, é essencial garantir que os consumidores estejam cientes do tratamento de seus dados e das tecnologias utilizadas.

No que diz respeito ao uso de dados pessoais, também deve-se adotar uma abordagem ética. As empresas devem coletar dados apenas com o consentimento adequado e utilizá-los exclusivamente para os fins declarados. Além disso, a anonimização de dados pode ser uma medida preferível para garantir a privacidade dos consumidores e evitar possíveis violações da LGPD.

De fato, a integração da IA no marketing oferece oportunidades emocionantes, mas deve ser usada de forma responsável. Os profissionais de marketing precisam garantir que as práticas comerciais sejam transparentes e respeitosas aos direitos dos consumidores, usando apenas dados realmente necessários. Ao fazer isso, é possível aproveitar todo o potencial da IA para impulsionar o sucesso das estratégias de marketing, ao mesmo tempo em que se protege e respeita os valores éticos fundamentais.

Fagner Souza é gerente jurídico da SIS Innov & Tech.

Fonte: Nova PR.

Tecnologia transformadora: o papel da inteligência artificial na evolução dos testes de software

Por Bruno Moraes

A inteligência artificial (IA) está cada vez mais presente em diversas áreas do nosso cotidiano: desde sistemas de reconhecimento por voz e rostos nos nossos smartphones até carros autônomos e robôs capazes de aprender e executar tarefas. Segundo o estudo “Inteligência Artificial – Análise Profunda de Mercado e Insights de Dados”, divulgado pelo portal de análise de dados Statista, estima-se que o faturamento desse setor aumente em média 35% anualmente até 2025, alcançando a marca de 126 bilhões de dólares.

O aumento indica uma demanda cada vez maior por soluções baseadas em inteligência artificial em diversos setores da economia. No Brasil, 41% das empresas utilizam no cotidiano alguma forma de inteligência artificial, segundo uma pesquisa realizada pela IBM. Os brasileiros também são bem receptivos a essa tecnologia: 84% acredita que a IA é confiável, de acordo com dados divulgados pela KPMG.

Os números refletem não apenas a adoção generalizada da inteligência artificial, mas o reconhecimento de seus benefícios. Essa tecnologia, é claro, também beneficia quem trabalha no desenvolvimento da área. A IA permite uma ampla gama de aplicações, desde a definição de cenários até a automação de tarefas complexas, e se estabelece como uma ferramenta indispensável, impulsionando a precisão e a eficiência nos processos.

Para os especialistas em desenvolvimento de software, a aplicação da inteligência artificial se tornou uma importante aliada do início ao fim dos projetos. Nosso exemplo de uso é na cobertura dos testes contínuos, que demandam uma grande equipe e orçamento. A IA pode ser aplicada de diversas maneiras para auxiliar a testagem de softwares, como por exemplo:

– pode ser empregada para automatizar a execução de testes em ambientes de integração contínua, permitindo uma verificação frequente de novos códigos incorporados ao sistema;

– algoritmos de IA podem ser treinados para identificar padrões e tendências nos resultados dos testes, ajudando a priorizar áreas de foco para testes manuais mais detalhados;

– pode ser usada para gerar conjuntos de dados diversos, ajudando a aumentar a cobertura dos testes;

– algoritmos de IA podem ser aplicados para monitorar o desempenho do sistema em tempo real durante os testes contínuos, identificando gargalos de desempenho, vazamentos de memória ou outros problemas de escalabilidade que podem surgir.

À medida que exploramos as diversas formas de aplicação da inteligência artificial nos testes contínuos, fica cada vez mais evidente o papel fundamental que essa tecnologia desempenha na garantia da segurança e da qualidade dos softwares. Desde a automatização da execução de testes até a geração de conjuntos de dados diversificados e o monitoramento do desempenho em tempo real, a IA oferece uma gama abrangente de soluções. Essas inovações não apenas agilizam o processo de teste, como também permitem uma detecção mais rápida e precisa de erros e anomalias.

Os resultados positivos observados no relatório ISG Provider Lens™ Next-Gen ADM Services para o Brasil de 2023 corroboram essa tendência, destacando seu uso na automação de testes, na aceleração da criação de scripts e na identificação de erros. A pesquisa também indica que a IA aumenta a produtividade dos especialistas em testagem. Isso demonstra que, com toda certeza, a inteligência artificial está transformando o processo de teste de software e se tornou sinônimo de qualidade e confiabilidade para os profissionais de Garantia de Qualidade (QA).

No entanto, existe a preocupação natural sobre a substituição do trabalho do QA pela IA. Vejamos por um outro lado: a colaboração com a inteligência artificial pode ser um trampolim para o avanço na carreira dos profissionais de QA, pois essa área carece de funcionários e a IA precisa envolver pessoas que querem fazê-la funcionar. Aliás, não é novidade que o problema da escassez de profissionais é visto em todo o setor de tecnologia da informação.

Longe de ser uma ameaça, a IA se encaixa no aprimoramento da atuação do profissional, proporcionando maior cobertura nos testes e acelerando o processo de aprendizado. Por isso, a dica para quem está no mercado é se especializar e se aperfeiçoar constantemente, já que, para utilizar efetivamente ferramentas de IA, os profissionais precisam desenvolver habilidades específicas. Clareza, objetividade e detalhamento na especificação dos testes são cruciais para garantir a eficácia e utilidade dos resultados gerados pela inteligência artificial.

Já para as empresas, investir nessa tecnologia é garantir a qualidade e excelência dos produtos e serviços. Porém, a inteligência artificial deve ser vista como um auxílio para as tarefas diárias e processos de desenvolvimento, não uma solução definitiva para todos os problemas que podem acontecer. Neste caso, treinamento adequado para os colaboradores é essencial para que a IA seja percebida como uma força que amplia a eficiência e produtividade.

*Bruno Moraes é Analista de Automação de Testes Sênior na Prime Control, empresa especializada em experiência digital e presente no mercado de consultoria digital há 15 anos.

Fonte: Mondoni Press

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Soluções open source são econômicas, flexíveis e estratégicas para o marketing das pequenas e médias empresas

Por Daniel R. Bastreghi*

O Marketing é uma área sempre pulsante que, por natureza, precisa estar continuamente inovando em suas formas de conquistar o público e fazer uma empresa crescer. Para os profissionais da área, é vital estar em contato com novas tecnologias que possam trazer vantagens competitivas para as organizações. Uma delas é o open source, abordagem de desenvolvimento colaborativo que é flexível e acessível para a experimentação, sendo uma opção especialmente interessante para as pequenas e médias companhias.

De acordo com um levantamento encomendado pela Cloudera e conduzido pela Coleman Parkes Research divulgado no fim do ano passado, 80% das empresas planejam continuar investindo em tecnologias open source nos próximos três anos. Esse tipo de solução tem como principal valor a colaboração e permite que desenvolvedores possam estudar, usar, modificar e distribuir códigos de maneira flexível para que projetos sejam criados e aprimorados rapidamente; as comunidades trabalham em conjunto e têm a chance de construir algo maior do que conseguiriam por conta própria.

Para as pequenas e médias empresas, o open source representa a oportunidade de inovar a partir de uma base tecnológica, de colaborar com o ecossistema e assim ocupar as lacunas deixadas pelas organizações maiores. Isso requer predisposição, mas as iniciativas open source permitem que, com um pouco de atenção e conhecimento, as empresas usufruam de recursos avançados. De maneira geral, as comunidades de desenvolvedores dão um grande exemplo em termos de colaboração e organização e as equipes de marketing podem aprender muito com elas.

Isso porque, no marketing ou em qualquer área, experimentar é caro, exige tempo, recursos e criatividade, além de demandar cuidados adicionais com integração ao legado e privacidade de dados. Isso nem sempre está ao alcance das pequenas empresas ou até das maiores, então soluções colaborativas entre múltiplas organizações acabam se fortalecendo. A área de software está repleta de bons exemplos. Entre as mais famosas, está o WordPress, uma consagrada solução de código aberto para gerenciamento de conteúdo que possui uma comunidade bastante ativa e um enorme repositório de plugins e temas.

Leia também: Mercado B2B perde oportunidades por não investir em marketing de influência

Outra solução interessante é o Mautic, uma ferramenta de inbound e automação de marketing muito versátil e completa; o Chatwoot também foi criado a partir de iniciativas de código aberto e favorece o atendimento omnichannel com diversas opções de integração às redes sociais, chat ao vivo e suporte via e-mail que facilitam o atendimento ao cliente; o Cal.com favorece o agendamento de reuniões comerciais; e as soluções de CRM EspoCRM e o X2CRM também são notáveis. A composição destas e outras soluções formam uma estrutura de martech muito funcional e acessível.

Soluções de código aberto são excelentes opções para iniciar e validar inovações. Conforme amadurecem, pode-se cogitar a ampliação ou troca para outras soluções. Porém, este não é o fim para as soluções de código fonte aberto. Afinal, elas podem ser facilmente customizadas e complementadas com plugins e outras integrações.

Contudo, o marketing é essencialmente uma competição. Isso significa que a colaboração massiva e aberta em algum momento se torna incompatível com a atividade de marketing. A partir de um determinado ponto, as equipes precisam reservar para si alguns recursos, estratégias ou insights para que, por definição, conquistem vantagens competitivas. No entanto, até que este momento chegue, qualquer empresa tem muito a ganhar se explorar o potencial das inúmeras soluções de código aberto existentes para marketing e vendas.

*Daniel R. Bastreghi é sócio administrador e Consultor de Marketing na DRB.MKT, atuando com orientação e assessoria de planejamento estratégico, estruturação comercial, implantação de CRM, inbound marketing, ações integradas de marketing digital e pesquisas. Sendo assim, é a fonte ideal para falar sobre tendências do setor, social media, influenciadores, produtividade e gestão.  Daniel é MBA em Gestão de Projetos e especialista em Planejamento e Gerenciamento Estratégico.

Fonte: Mondoni Press.

Mercado B2B perde oportunidades por não investir em marketing de influência

Por Daniel R. Bastreghi

Melhorar a experiência do cliente e adquirir novos clientes são prioridades para as empresas B2B, segundo o relatório “O Status do Marketing B2B no Brasil” deste ano. Este pode ser um terreno muito fértil para quem investir no marketing com influenciadores especializados. Isso já é uma realidade em muitas empresas, mas com a estratégia certa, contínua e estruturada, é possível fazer com que o marketing de influência se torne uma prática consistente para ganhar mercado.

Dados de fora do país podem ser animadores para nos inspirar. Em pesquisa global realizada pela Ogilvy, que incluiu empresas B2B de quase todos os continentes, 75% dos respondentes disseram que já utilizam influenciadores em suas ações de marketing. A pesquisa reporta também que 67% dos executivos de marketing consideram os resultados das campanhas com influenciadores superior às suas campanhas institucionais, um número muito expressivo.

O marketing de influência é melhor compreendido quando o comparamos com o marketing boca a boca. A diferença é que o primeiro acontece em escala jamais vista. No ambiente digital, as recomendações de produtos e serviços correm soltas, reverberam por mais tempo e são amplificadas por discussões e interações, às vezes até acaloradas. Isso sempre existiu, mas nunca na proporção que acompanhamos hoje. E, se considerarmos que em 2025 teremos 75% da força de trabalho composta por nativos digitais, conforme artigo da Harvard Business Review, podemos entender o potencial do marketing digital e do marketing de influência. 

No B2B, os mesmos fenômenos de disseminação de recomendações e conteúdo ocorrem, porém com nuances diferentes. A expertise e credibilidade de quem faz uma análise sobre determinado produto ou serviço pesa muito mais na percepção de quem recebe tal análise, ou seja, do público. Logo, o influenciador de um mercado B2B precisa se preocupar ainda mais com a construção e a manutenção de sua reputação ao longo do tempo.

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Outro componente-chave do marketing de influência B2B é o alcance adequado do público. No B2C, temos segmentos de consumidores mais amplos e potencialmente mais difusos. No B2B, lidamos com públicos menores, mais definidos, e uma preocupação comum é evitar que uma mensagem de marketing chegue ao público errado, gerando demanda inadequada para a oferta. Então, escolher um influenciador que já possua uma base de seguidores alinhada ao público-alvo de sua marca precisa ser uma prioridade, caso se interesse pelo mercado de influência B2B.

Uma outra opção acessível, especialmente para pequenas e médias empresas, é buscar o engajamento e participação de colaboradores e parceiros nas mídias sociais. Melhor ainda, é identificar os colaboradores com maior alinhamento de valores e potencial de comunicação para desenvolver relações longas e confiáveis. Por outro lado, é comum que as empresas peçam ou até exijam que seus colaboradores usem as mídias sociais para a promoção da própria companhia. Essa atitude em específico não é recomendada, pois não é uma forma sustentável e positiva de gerar influenciadores, afinal o que faz o marketing de influência ser tão valioso é a autenticidade. 

Pessoas valorizam recomendações de especialistas porque parecem genuínas e espontâneas. À medida que pressionamos ou criamos artificialidades para forçar uma exposição, invalidamos o principal ingrediente. Dessa forma, há maneiras mais apropriadas de conquistar influenciadores em sua base de colaboradores: escolhendo cuidadosamente as pessoas de melhor alinhamento com seus valores e que possuam uma voz no mundo digital; investindo em relações de longo prazo que educam o influenciador sobre seus diferenciais e ofertas. Este é um bom começo.

Influenciadores transpõem barreiras e elevam o alcance

Ainda segundo o estudo daOgilvy, chamado “A Ascensão Global do Influenciador de Marketing B2B”, em tradução livre, 48% das equipes de Marketing consideram o Facebook a próxima plataforma importante para o marketing de influenciadores, um dado muito curioso e positivo. Isso porque considero um erro limitar o marketing de influência B2B ao LinkedIn. Embora esta seja a opção primária, pelo viés de conteúdo e pelas opções de segmentação da plataforma de anúncios desta mídia, é importante considerar que toda pessoa jurídica é composta por pessoas físicas. Então, conforme miramos mais alto no funil de marketing e focamos em comunicações que buscam gerar consciência de marca, outras plataformas, como Facebook, Instagram ou mesmo WhatsApp, podem ser úteis para aumentar os pontos de contato, gerar familiaridade e testar diferentes formatos de conteúdo.

Inclusive, um dos benefícios mais nítidos do marketing de influência é o alcance de diferentes públicos. Influenciadores possuem uma base de seguidores já estabelecida e, ao analisar ou recomendar um produto, emprestam sua credibilidade a ele. Além de a mensagem chegar a novas pessoas, a forma faz toda a diferença no resultado. Anúncios tradicionais têm receptividade limitada por serem uma interrupção no fluxo de interesse do público. Já a contextualização da mensagem em ações com influenciadores, agregando conteúdo e análises pertinentes ao assunto, transpõe barreiras inconscientes, baixa a resistência à mensagem e fornece informações mais ricas e confiáveis para uma compreensão adequada pelo público.

Dá retorno?

Primeiramente, é importante reconhecer que, em média, 95% do mercado-alvo não está comprando no momento. Ou seja, apenas 5% de uma audiência está efetivamente considerando uma compra. Logo, mesmo que o marketing de influência seja uma estratégia excelente para construção de marca e educação do mercado sobre suas soluções e ofertas, não é interessante estabelecer uma relação de retorno do investimento (ROI) baseado em geração de leads e conversões, pois essa é uma maneira míope de compreender o marketing B2B.

Embora seja possível rastrear links, o modelo “The Messy Middle”, proposto pelo Google, nos alerta que a navegação dos usuários na internet não é linear. Um conteúdo pode ser o gatilho para um processo de compra, mas o meio do processo tende a ser não-linear, podendo envolver dezenas ou centenas de passos intermediários, em uma janela de semanas ou meses.

Logo, quando tratamos de mercados B2B, onde o processo de compra tende a se estender por longos períodos e envolver múltiplos atores, é muito difícil estabelecer uma relação direta entre um anúncio ou conteúdo e a captura do lead ou a conversão. Também seria um grande erro direcionar todo o esforço de marketing para somente os 5% que estão de fato comprando. Mesmo assim, segundo o estudo da Ogilvy, 40% dos executivos de marketing entrevistados reportam aumento no recebimento de leads e reconhecem que estes estão mais aquecidos. Além disso, 43% dos executivos C-level dizem que suas campanhas de marketing de influência resultaram em aumento de vendas e ROI.

*Daniel R. Bastreghi é sócio administrador e Consultor de Marketing na DRB.MKT, atuando com orientação e assessoria de planejamento de marketing, planejamento estratégico, estruturação comercial, implantação de CRM, inbound marketing, ações integradas de marketing digital e pesquisas. É autor do livro “Os 5 fatores de sucesso na Internet” e da ferramenta de planejamento “Marketing Strategy Canvas”. Daniel é MBA em Gestão de Projetos e especialista em Planejamento e Gerenciamento Estratégico.

Fonte: Mondoni Press.

Sociedade, governo ou indústria: quem terá maior controle da inteligência artificial no futuro?

Por Durval Jacintho*

No futuro, quem terá maior influência e controle da inteligência artificial? Essa é uma inquietude a respeito do alcance e domínio da IA sobre os humanos que gera uma disputa de poder recorrente. Aliás, com a popularização do ChatGPT – lançado pela empresa OpenAI em novembro de 2022 -, na modalidade de IA Generativa, ela alcançou o domínio público devido a versatilidade e capacidade criativa – prerrogativa até então dos seres humanos -, principalmente para a geração de conteúdo em formato de texto, áudio e vídeo.

Podemos reconhecer que o tema é complexo devido aos impactos ainda incertos de uma tecnologia de propósito geral, ainda mais porque ela gera consequências em todos os segmentos sociais e econômicos. Para começar, podemos analisar a questão utilizando o conceito de vetores e observando as forças que atuam sobre todos os aspectos da IA. Considerando a atuação e influência dos stakeholders, ações essas que podem mudar os rumos desta tecnologia e todas as suas criações, chegamos aos vetores de poder econômico, poder político e poder social.

Vetor do poder econômico

O vetor econômico representa o poder da indústria de tecnologia sob a liderança das big techs, empresas que controlam as redes sociais, os serviços de busca na internet, os aplicativos e as compras online, entre outros serviços que utilizam a inteligência artificial. Uma dimensão deste vetor é medida pelo faturamento das maiores empresas americanas e chinesas de tecnologia. O número supera U$ 1 trilhão, maior que o PIB da Holanda em 2022. São também empresas líderes em valor de mercado entre as listadas na Bolsa de Valores dos Estados Unidos. Entre as cinco maiores do mundo em 2023, quatro são big techs, sendo a Apple a maior, cujo valor acionário chegou a 3 trilhões de dólares.

Em 2022, em meio a uma derrocada do mercado de ações liderada pela tecnologia, as cinco maiores, chamadas de FAMAG (Facebook, Amazon, Microsoft, Apple e Google) investiram US$ 223 bilhões em pesquisa e desenvolvimento (P&D), contra US$ 109 bilhões em 2019. Como a IA exige grandes investimentos em capital humano para pesquisa, treinamento dos grandes modelos de linguagem (LLM – Large Language Models em inglês), hardware e software, a concentração de poder só tende a aumentar nesta tecnologia. Integram também o vetor do poder econômico as startups – que muitas vezes atuam em parceria com a big techs –, os centros de pesquisa em tecnologia e os fabricantes de componentes eletrônicos, hardware e software.

No momento, este vetor é o mais influente pelo pioneirismo em lançar produtos e serviços de inteligência artificial. Porém, seu protagonismo muda rapidamente de mãos dentro da indústria conforme os avanços tecnológicos. Até 2022, a OpenAI, criadora do ChatGPT, era uma empresa desconhecida fora do meio tecnológico. Os stakeholders deste vetor estão em uma ferrenha disputa de liderança e tendem a se opor à regulamentação da IA, que lhes exigiria mais responsabilidade sobre os conteúdos publicados e mais custos para controle. Entretanto, diante das pressões pelos potenciais riscos e danos que a IA pode causar, muitas empresas se empenham na autorregulação, criando códigos internos de conduta ou aderindo à manifestos em favor da ética e IA responsável.

Vetor do poder político

O vetor político se configura pela ação dos três poderes da república – executivo, legislativo e judiciário – e demais entes reguladores públicos e setoriais. Esse poder geralmente demonstra muita força devido a capacidade impositiva e da ação dos agentes estatais no controle, fiscalização e penalização dos demais agentes. Considerando que somente 30% da população mundial vive em regimes plenamente democráticos, se tornam recorrentes as discussões sobre o tema, pois a indústria sempre está à frente dos demais vetores e tende a desafiar regras e imposições regulatórias.

Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden assinou uma ordem executiva em novembro de 2023 em defesa da IA responsável, colocando diretrizes e barreiras no uso e desenvolvimento de grandes modelos de linguagem, que devem estar sujeitas a supervisão antes de seu lançamento. Na China, país importante na criação da tecnologia digital e com controle estatal centralizado, o órgão regulador da internet adotou medidas provisórias para reger os serviços da IA Generativa, com objetivo de criar uma lei geral para sua utilização. Iniciativas em prol da regulação da Inteligência Artificial também podem ser conferidas na Europa e no Reino Unido.

Na América Latina, somente o Peru publicou, em julho de 2023, sua lei de promoção do uso da inteligência artificial para o desenvolvimento econômico do país. Todavia, esse é um regramento muito principiológico e sumário, que não estabelece obrigações para os desenvolvedores da tecnologia. No Brasil, segue em fase de emendas no Senado Federal o Projeto de Lei PL 2338/23, que representa um avanço em termos de regulação de IA por equilibrar a proteção de direitos fundamentais humanos baseados em princípios éticos com o estímulo ao desenvolvimento tecnológico responsável. Entretanto, o projeto recebe críticas de alguns especialistas em IA, que enfatizam a dificuldade de regulação de uma tecnologia em estágio inicial de aplicações, e em contrapartida, sugerem investimentos em educação digital e reflexão da sociedade sobre o uso responsável da inteligência artificial.

Vetor do poder social

O vetor social representa as entidades da sociedade civil, das organizações não governamentais (ONGs), da imprensa, do meio acadêmico, das demais empresas e pessoas físicas consumidoras e de agremiações religiosas interessadas. É o vetor de poder mais heterogêneo e pouco escutado nas discussões sobre inteligência artificial, mas que pode ser decisivo com a união de forças em ação. Menos visível, age com base nos benefícios que a tecnologia pode trazer, resguardando valores fundamentais. Aliás, é no vetor do poder social que a maioria da população está inserida, então ela demanda do Governo a regulamentação e da Indústria a concepção de produtos regida pela “ética by design”, a fim de preservar direitos e privacidade nas aplicações da IA.

Algumas questões relativas aos impactos diretos e externalidades da IA colocadas pelos stakeholders da Sociedade são a perda de empregos para a IA, uma das maiores ameaças em todos os setores e agentes da sociedade. Segundo a OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que incluiu 38 países, até 27% dos empregos atuais podem ser substituídos pela IA, principalmente para trabalhadores cujas atividades podem ser facilmente automatizadas.

Outra questão é o direito autoral de criadores de conteúdo e do uso de imagens de artistas que são geradas pela IA para reduzir os altos custos de produções cinematográficas e produção de shows. Este debate resultou em uma greve de roteiristas e atores de Hollywood, que foi liderada pelo Sindicato de Atores com 160 mil associados. Também podemos discutir o legado digital de uma pessoa falecida, que pode ser trazida novamente à vida pelo uso de ferramentas de IA. É uma discussão no meio jurídico sobre a titularidade entre herdeiros, a responsabilidade civil e os lucros auferidos pelo uso da imagem de pessoas recriadas pela IA.

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Por fim, temos os vieses discriminatórios causados pelos algoritmos de IA, como a utilização de bases de dados incompletas, desatualizadas ou incorretas, gerando tratamento assimétrico entre grupos sociais. Por isso, a sociedade exige transparência, privacidade e explicabilidade dos algoritmos de IA. E temos ainda as fake news, que se tornam mais críveis com o uso das ferramentas de IA que permitem a geração de áudio e vídeos de alta resolução de uma pessoa a partir de textos apócrifos, como a oferecida pelo aplicativo FakeYou.

Por outro lado, os stakeholders deste vetor usufruem de vários benefícios  da IA, como na saúde, com o uso e alcance da utilização da IA no diagnóstico de doenças e procedimentos cirúrgicos e aceleração no desenvolvimento de fármacos e vacinas; da educação, na geração de conteúdo individualizado por aluno de acordo com a necessidade, assim como ambientes de aprendizagem colaborativos para professores, por meio de algoritmos e otimização dos sistema de gestão educacional; no sistema financeiro, na segurança e prevenção de fraudes, concessão de crédito e relacionamento com clientes; e em todos os processos produtivos das organizações.

As resultantes vetoriais

Diante de tantos agentes que podem modular os vetores na disputa pelo domínio, uso e controle da IA, concluímos que as principais resultantes vetoriais que irão definir o futuro da IA dependem da confluência dos interesses, negociação e benefícios logrados pelos vetores Governo, Indústria e Sociedade. São elas: regulação, mercado, pactos éticos-culturais e sustentabilidade.  

A regulação é medida pela somatória dos interesses e ações dos agentes dos vetores Governo e Indústria, que pode mover-se de intensidade e sentido de acordo com a efetiva participação da Sociedade na discussão. Já o mercado é decisivo para o futuro da Indústria, desde que esta atenda aos interesses do vetor Sociedade, que geralmente tem em suas mãos um trunfo: a seleção dos produtos e serviços de IA que aceita consumir, ainda que compulsoriamente, já que está submetida ao uso de diversas aplicações da IA sem anuência ou autorização prévia de dados. Por exemplo, os consumidores do mercado se impõem à tecnologia quando não encontram respostas para seus anseios e necessidades.

Já os pactos ético-culturais são formados pela somatória da ação de agentes dos vetores Sociedade e Governo, que atuam reativamente quando os produtos e serviços oferecidos pela Indústria provocam desvios éticos e afrontam valores culturais, além de uso criminoso da IA. Nestes casos, a Sociedade demanda ação imediata de entes governamentais por legislação que penalize os desvios. Por fim, a sustentabilidade é decisiva no futuro da IA, pois quanto maior a convergência dos três vetores apresentados, maior será o benefício para todos. Para a Indústria, a sustentabilidade será alcançada pela perpetuidade das empresas; para o Governo, será a estabilidade política e econômica necessária para enfrentar as grandes transformações que a tecnologia da inteligência artificial antevê; e para a Sociedade, será um futuro no qual esta tecnologia contribua para ampliar a produtividade, a segurança, a saúde, a mitigação dos impactos ambientais e em definitivo a qualidade de vida de todos. Que este futuro seja de uma IA inclusiva, acessível a todos e que seu uso ocorra com responsabilidade, transparência e ética.

Durval Jacintho é Engenheiro Eletrônico e Mestre em Automação Industrial pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e consultor internacional em tecnologia pela DJCon, com 37 anos de experiência C-Level no mercado de tecnologia e telecomunicações. Conselho de Administração certificado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e membro da Comissão de Ética do IBGC e da Comissão de Inovação do Capítulo São Paulo Interior. Integra o Comitê de Gestão do Hub da Gestão e o Chief.group.

Fonte: Mondoni Press

Segurança cibernética: uma análise da ética nas empresas e do papel das lideranças a partir dos sete pecados capitais

*Por Durval Jacintho

A segurança cibernética surgiu para combater o crescente uso criminoso de computadores e redes, que causa muitos prejuízos às operações e à reputação das organizações. Sendo assim, é crucial analisar como as empresas têm lidado com este tema tanto internamente quanto no relacionamento com os clientes e fornecedores. De acordo com o Relatório de Custo de Violação de Dados da IBM, o custo médio global de uma violação em 2023 chegou a U$4,45 milhões, o que representou um aumento de 15% em três anos. 

Esses números mostram que a prevenção e a mitigação dos impactos em segurança de dados são essenciais para a sobrevivência dos negócios, por isto defendo que esse tema é uma questão de governança que deve estar no radar do Conselho de Administração e de Gestão dos C-Levels das organizações. É papel da liderança se preocupar (e muito) com a conduta ética dentro da empresa, pois ela é fundamental para garantir a proteção dos dados pessoais dos usuários e evitar o uso indevido deles por empresas ou indivíduos mal-intencionados, mas arrisco dizer que isso não acontece sempre. 

Justamente em organizações cujos líderes falham na formação de uma cultura ética de respeito, engajamento e confiança é que eu identifico práticas de riscos cibernéticos que podem ser avaliadas em uma analogia com os sete pecados capitais: avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba. Eles foram definidos pela igreja católica e revisados por São Tomás de Aquino no século XIII e são utilizados, além da religião, nas artes, na literatura, na psicologia comportamental e no marketing, porque estão relacionados aos vícios humanos. Listo a seguir minha análise dos pecados capitais da segurança cibernética: 

1.      Soberba: achar que a organização está imune a ataques cibernéticos ou que não precisa investir em segurança cibernética. Isso pode gerar uma falsa sensação de segurança e expor a organização a riscos desnecessários.

2.      Avareza: querer economizar nos recursos destinados à segurança cibernética ou usar soluções inadequadas ou obsoletas. Isso pode comprometer a eficácia e a atualização das medidas de proteção e facilitar a exploração de vulnerabilidades pelos invasores.

3.      Inveja: desejar os dados ou as informações de outras organizações ou indivíduos e tentar obtê-los de forma ilícita ou antiética. Isso pode configurar um crime cibernético e violar a privacidade e os direitos dos envolvidos. 

4.      Ira: reagir de forma agressiva ou impulsiva diante de um ataque cibernético ou de uma situação de conflito. Isso pode prejudicar o gerenciamento de crise e a tomada de decisão racional e proporcional.

5.      Luxúria: buscar prazer ou satisfações imediatas na internet sem se preocupar com as consequências ou riscos. Isso pode expor os dados e as informações pessoais ou profissionais a golpes, fraudes, vírus, etc.

6.      Gula: acumular ou consumir dados ou informações em excesso ou desnecessariamente. Isso pode sobrecarregar os sistemas de informação da organização e dificultar o controle e a gestão dos dados.

7.      Preguiça: negligenciar ou ignorar as normas e os procedimentos de segurança cibernética da organização. Isso pode facilitar o acesso de estranhos a dados importantes da organização.

Para ilustrar, cito um caso que presenciei: o presidente de uma empresa e diretores que, por normas de controle da organização, têm que aprovar todos os dias diversas atividades operacionais usando os sistema de controle, se vêem sobrecarregados de trabalho. Para evitar atrasos nos processos, entregam senhas para que subordinados de confiança aprovem pagamentos, compras, despesas de viagem, promoções etc. Neste tipo de organização de supercontrole, na qual dirigentes têm que aprovar tudo, terceirizar essa tarefa é uma violação grave das normas estabelecidas e, quando o mal exemplo vem da liderança, práticas antiéticas se disseminam. 

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Fortalecer a cultura para não correr riscos

Tanto para o exemplo citado, quanto para evitar incorrer nos pecados capitais da segurança cibernética, o ideal seria a organização identificar seu perfil de cultura para gerar mais confiança na delegação de tarefas e na organização como um todo. Claudia Pitta, palestrante e conselheira no Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), estabeleceu uma Escala da Cultura Ética em que, a depender das atitudes ou valores da empresa, pode ser cultura tóxica ou disfuncional; cultura de conformidade; cultura de integridade; e cultura de sustentabilidade.

Percebo que uma cultura ética tóxica é capaz de gerar consequências negativas para a segurança cibernética. Nesse tipo de cultura, a discriminação, a negligência, o desrespeito e a falta de transparência, além do foco exclusivo nos resultados, podem levar os participantes da organização a agirem de forma oculta, furtiva e descumprirem as normas estabelecidas de segurança, seja por falta de engajamento, baixo reconhecimento ou até reações de retaliação à organização. Muitos dos ataques hackers são provocados por colaboradores com acesso aos sistemas da organização.

É curioso que, justamente como forma de conter essas atitudes, algumas empresas contratem hackers profissionais para testar erros em processos cometidos por funcionários, causando vulnerabilidades ou até ataques. É a cultura do medo, ao invés de práticas de treinamento e conscientização. À primeira vista, a cultura mais focada no compliance parece ser a mais indicada para mitigação de riscos cibernéticos, por suas características de liderança burocrática, comando e controle. Entretanto, o incentivo à denúncia, a busca de culpados e a punição sem reeducação, abre flancos para a falta de comprometimento e zelo dos colaboradores nos cuidados que mitigam os riscos cibernéticos.

Sendo assim, acredito que as culturas baseadas na integridade e sustentabilidade são as que promovem o melhor ambiente de prevenção de riscos cibernéticos, pela confiança e respeito aos colaboradores, equidade, segurança psicológica e exemplo da liderança consciente. E nesse processo de cultura ética o posicionamento da liderança diante do tema é essencial. Os líderes dentro de uma organização são os espelhos de conduta para os demais membros. Assim, o exemplo auxilia na disseminação de uma cultura de prevenção e de segurança cibernética em uma visão ampla do tema.

Durval Jacintho é Engenheiro Eletrônico e Mestre em Automação Industrial pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e consultor internacional em tecnologia pela DJCon, com 37 anos de experiência C-Level no mercado de tecnologia e telecomunicações. Conselho de Administração certificado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e membro da Comissão de Ética do IBGC e da Comissão de Inovação do Capítulo São Paulo Interior. Integra o Comitê de Gestão do Hub da Gestão e o Chief.group.

Fonte: Mondoni Press.

IA em nuvem é investimento estratégico a longo prazo para impulsionar a inovação nas empresas

*Por Jefferson Camargo

A inteligência artificial está transformando diversos setores da sociedade, desde a medicina até as finanças, proporcionando avanços significativos em várias indústrias. À medida que a tecnologia continua avançando e os fornecedores de nuvem oferecem soluções cada vez mais sofisticadas, é importante acompanhar as oportunidades e abraçar a IA na nuvem para alcançar o sucesso em um mundo cada vez mais digital. No entanto, a implementação de projetos baseados em inteligência artificial pode apresentar desafios, especialmente quando se trata dos custos envolvidos. 

A implementação da IA na nuvem pode parecer um desafio financeiro inicial, mas ao analisar suas vantagens, fica claro que é um investimento estratégico com benefícios significativos a longo prazo. As possibilidades de economia, acesso à tecnologia avançada, flexibilidade, redução de custos operacionais e a democratização da IA são razões que mostram por que os custos não devem ser um impedimento para aproveitar os benefícios da inteligência artificial na nuvem, mas encarados como um investimento estratégico para impulsionar a inovação, aprimorar a competitividade e obter vantagens significativas no mercado atual. Segundo o relatório 2023 AI Index Report do Stanford Institute for Human-Centered Artificial Intelligence (HAI), em 2022, o investimento privado global em IA não passou dos US$ 91,9 bilhões, representando uma queda de 26,7% em relação a 2021.

O aumento significativo das demandas por soluções tecnológicas avançadas tem levado as empresas a reconhecerem a necessidade de aprimorar a eficiência, excelência dos processos e a produtividade, pois temem ficar para trás no mercado. A fim de reduzir os custos, algumas empresas estão considerando a possibilidade de migrar para soluções locais para construir recursos de inteligência artificial/machine learning. No entanto, elas estão cautelosas em relação a essa decisão, como mostra o estudo já mencionado, pois não querem perder competitividade em termos de capacidades de IA/ML em comparação com seus concorrentes.

Nesse cenário, as soluções em nuvem surgem como uma opção atraente para as empresas que precisam fortalecer sua infraestrutura para a integração de IA/ML. Essas soluções oferecem benefícios de escalabilidade, agilidade e acesso a tecnologias de ponta, ao mesmo tempo em que ajudam a controlar os custos de forma mais eficiente. Dessa forma, as empresas podem aproveitar os recursos da nuvem para impulsionar suas iniciativas de IA/ML sem comprometer sua competitividade no mercado.

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Por natureza, a IA requer recursos computacionais significativos para executar algoritmos complexos e lidar com grandes volumes de dados. No passado, essa infraestrutura de hardware estava restrita a grandes corporações com orçamentos substanciais. Mas tudo mudou com o surgimento da computação em nuvem. Agora, até mesmo pequenas startups e empreendedores têm a chance de aproveitar o poder da IA sem precisar investir em equipamentos caros e servidores de última geração.

Embora algumas pessoas possam se preocupar com os custos associados à implementação da IA na nuvem, é essencial ver esse investimento como uma estratégia de longo prazo, uma vez que as vantagens superam os desafios financeiros iniciais. A computação em nuvem apresenta várias razões para não se deixar intimidar pelos custos. Entre elas, destaca-se a economia de escala, no qual você paga somente pelo que realmente usa, o que gera uma economia significativa em comparação com a aquisição e manutenção de infraestruturas locais que muitas vezes acabam ociosas. Além disso, ao optar pela nuvem, você tem acesso à tecnologia de ponta, pois os provedores estão em constante competição para oferecer as melhores soluções de IA, mesmo que seu orçamento seja limitado.

A agilidade e escalabilidade são outras vantagens da nuvem, permitindo ajustar os recursos conforme a demanda, o que possibilita uma rápida escalabilidade à medida que seu projeto de IA cresce. Além disso, ao migrar para a nuvem, você elimina gastos com manutenção de infraestrutura, energia elétrica e refrigeração de servidores, reduzindo os custos operacionais.

Outro ponto relevante, é que ela permite que sua equipe se concentre no core business, desenvolvendo e aprimorando a própria IA e otimizando o desenvolvimento do seu produto ou serviço, sem se preocupar com a infraestrutura de TI. De certa forma, a democratização da IA é uma realidade com a nuvem, tornando-a mais acessível a uma variedade de setores e empresas, independentemente do tamanho ou dos recursos financeiros.

Essa mudança para a IA generativa pode ser um momento crítico para as empresas que ignoram o potencial valor dessa tecnologia para o seu setor e seus negócios. Por exemplo, fabricantes com cadeias de suprimentos alcançando 90% de eficiência devido à IA generativa terão uma vantagem significativa sobre aqueles que operam com apenas 60% de eficiência. Eles poderão oferecer cronogramas de produção mais rápidos, proporcionar melhores experiências aos clientes e funcionários, além de garantir maior qualidade a custos e preços mais baixos.

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Entretanto, a realidade é que a IA generativa será um investimento significativamente elevado. Pois será necessário adquirir CPUs, GPUs e sistemas de armazenamento, e provavelmente mais do que se imagina inicialmente. Isso marcará um ponto de inflexão em inovação e gastos para aquelas empresas que estão totalmente comprometidas com a IA generativa e acreditam na história que mencionei antes.

Muitas empresas cometeram muitos erros que prejudicaram o valor que poderiam ter obtido da computação em nuvem. Elas dependiam excessivamente de simples migrações, ignorando melhores caminhos para uma infraestrutura em nuvem mais econômica. Pensavam que a computação em nuvem era apenas uma medida para economizar custos, e não uma forma de investimento. Agora, as empresas estão pagando o preço por isso, pois precisam voltar atrás e corrigir problemas que deveriam ter sido tratados desde o início. Em outras palavras, estão migrando as mesmas cargas de trabalho para a nuvem duas vezes.

Por isso, meu conselho é encarar a IA pelo que ela realmente é: um investimento estratégico que pode definir o valor da empresa em algum momento. Não economize nesse investimento. Faça as coisas da maneira certa desde o início. Tenho certeza de que não haverá uma segunda chance para corrigir esse assunto.

*Jefferson Camargo é empreendedor e executivo com uma carreira dedicada à Tecnologia da Informação. Como co-fundador e CEO da Kumulus, ele tem se concentrado em áreas como Gestão de Equipes, Administração de Serviços Gerenciados e Cloud Computing.

Fonte: Mondoni Press.

Empreendedorismo digital: um universo que vai muito além de cursos e lojas virtuais

Por Daniel R. Bastreghi*

Estamos vivendo uma era de transformação digital que está apenas começando. Isso significa que há um vasto espaço para inovação e empreendedorismo. O empreendedorismo digital oferece oportunidades para iniciar um negócio com investimentos mínimos, validar novas ideias e expandir rapidamente. No entanto, o que realmente é o empreendedorismo digital?

Ao contrário do que muitos pensam, o empreendedorismo digital vai muito além de simplesmente oferecer cursos online, treinamentos ou criar lojas virtuais. Em 2003, Gary Hamel e Liisa Välikangas introduziram o conceito de “inovação reversa” em seu artigo “The Quest for Resilience”, publicado pela Harvard Business Review. Eles descreveram essa inovação como a habilidade das empresas digitais de desafiar os modelos de negócios tradicionais. Este pode ser o caminho para o sucesso no empreendedorismo digital: superar as barreiras dos negócios tradicionais, oferecendo soluções inovadoras e práticas ao público.

Estamos vivendo em uma época única da história, na qual é possível empreender, mensurar e testar hipóteses para validar negócios verdadeiramente promissores. Os rastros digitais deixados pelos consumidores fornecem uma base valiosa para os empreendedores compreenderem o comportamento do cliente e aprimorarem suas ideias. Além disso, o ambiente digital oferece a capacidade de escalar os negócios, o que significa vender para um público maior sem grandes custos adicionais. Um produto 100% digital pode ser vendido para 100, 1.000 ou até mesmo 1.000.000 de pessoas, sem variações significativas de custo.

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Para ter sucesso no empreendedorismo digital, os empreendedores precisam ser obstinados na criação de soluções para problemas reais. Tanto no mundo digital, quanto no físico, um bom empreendedor deve ter a dose certa de iniciativa, ousadia, persistência e comprometimento para fazer o negócio prosperar. Além do conhecimento técnico, é crucial acompanhar as inovações tecnológicas e utilizar plenamente as ferramentas disponíveis.

No mundo digital, a concorrência é intensa; seu concorrente está apenas a um clique de distância. Pode levar um certo tempo até conquistar os primeiros clientes e seguidores. A competição não é apenas com outros negócios digitais, mas também com conteúdos que podem atrair a atenção de sua audiência, como vídeos de animais fofos ou as dancinhas da moda. Portanto, é fundamental ser criativo, persistente e focar nas necessidades do seu público-alvo. Resolva os problemas deles e você ganhará sua lealdade.

Um exemplo notável de empreendedorismo digital é a Preppo, uma plataforma de prepostos jurídicos que acompanhei de perto. A advogada Lucyanna Lima Lopes, de Curitiba, é uma empreendedora que identificou uma oportunidade após uma mudança na lei que flexibilizou as condições para prepostos jurídicos. Ela criou uma plataforma inovadora para conectar empresas a prepostos em todo o Brasil, reduzindo custos para as empresas e proporcionando uma fonte adicional de renda para muitas pessoas.

Chris Guillebeau, autor do livro “The $100 Startup”, é conhecido por sua abordagem prática e inspiradora ao empreendedorismo digital. Guillebeau destaca princípios-chave, como a simplicidade das ideias de negócios e a importância de oferecer valor genuíno aos clientes. Ele incentiva os empreendedores a encontrar oportunidades em mercados não atendidos e a criar soluções acessíveis. Além disso, ele enfatiza a necessidade de criar uma presença online sólida através de websites, blogs e redes sociais para alcançar o público-alvo.

Para ter sucesso no empreendedorismo digital, é essencial estar disposto a adaptar-se às necessidades do mercado em constante mudança. Esteja preparado para enfrentar a competição acirrada e, mais importante, esteja pronto para inovar e oferecer soluções que verdadeiramente resolvam os problemas dos seus clientes. O empreendedorismo digital é mais do que uma simples transação online; é sobre construir relacionamentos duradouros e proporcionar valor real em um mundo digital em constante evolução. E ai?! Você está pronto?

*Daniel R. Bastreghi é sócio administrador e Consultor de Marketing na DRB, atuando com orientação e assessoria de planejamento estratégico, estruturação comercial, implantação de CRM, inbound marketing, ações integradas de marketing digital e pesquisas. Sendo assim, é a fonte ideal para falar sobre tendências do setor, social media, influenciadores, produtividade e gestão.  Daniel é MBA em Gestão de Projetos pela UNINTER. Pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, possui especialização em Planejamento e Gerenciamento Estratégico.

Fonte: Mondoni Press

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IA e as controvérsias da privacidade de dados

Por Durval Jacintho

Publicado em 1948, o clássico da ficção científica intitulado “1984”, do jornalista inglês George Orwell, ganhou notoriedade pelo conceito do “Big Brother is watching you”, entidade que representa o estado de um regime totalitário, que governa a vida e a liberdade das pessoas, através de teletelas em todas as casas, com monitoração 24 horas por dia da vida privada de um país fictício Oceania.

Quando chegou o ano de 1984, a realidade mundial foi bem diferente daquela visão pessimista traçada por Orwell no final dos anos 40, quando se iniciava a guerra fria. Os movimentos de abertura política, que culminaram com a queda do muro de Berlim em 1989, o fim de ditaduras como da Argentina e do Chile e a redemocratização do Brasil iniciada com a campanha das Diretas-Já em 1984, legaram novos ares de manifestação e expressão nas sociedades democráticas, cuja privacidade ainda era restrita ao ambiente doméstico.

Na década de 1990, a liberdade de expressão se tornou exponencial com o boom tecnológico resultante do advento da internet e da telefonia móvel, que legou ao século XXI um mundo novo, com novas formas de comunicação e interação pelo surgimento de comunidades nas redes sociais. Neste cenário, a exposição das pessoas passou a ser voluntária, em troca de pertencimento a um grupo de afinidades, promoção pessoal e acesso gratuito aos aplicativos e plataformas de relacionamento. Assim, o fim da privacidade não veio pelo fantasma do Big Brother, mas pela hiper exposição causada por mudanças de costumes na sociedade e no comportamento das pessoas, que passaram a ser monitoradas em seus hábitos de consumo, preferências por entretenimento e áreas de interesse.

Esse novo mercado elevou as Big Techs a liderar o ranking das maiores empresas em valor de mercado do planeta e agregando mais de 4,7 bilhões de internautas com perfis em redes sociais em 2023, além da geração de mais de 5 trilhões de transações anuais no comércio eletrônico. Esses números vultosos lograram grande poder aos detentores de informação de usuários e clientes e, em alguns casos, resultaram em abusos pelo uso inadvertido de dados sigilosos por parte de empresas de redes sociais, comércio eletrônico e mercado publicitário. Como forma de regulamentação e controle de desvios, foram criadas leis de proteção de dados em vários países do mundo, como a GPDR – General Data Protection Regulation da União Europeia e a LGPD no Brasil, publicadas em 2018.

Apesar dessas leis, nos dias atuais a privacidade segue sendo invadida por meio de crimes cibernéticos com grande impacto para as pessoas, como o vazamento de dados privados devido à exposição de informações sensíveis, protegidas e confidenciais dos usuários, que são roubadas de bases de dados de sistemas e aplicativos para vários fins: divulgação de propaganda de produtos e serviços nos meios digitais, utilização em sistemas estatísticos do big data e crimes financeiros, nos quais são usados identidade e dados sigilosos das vítimas. Com mais de 313 milhões de usuários de internet, o mercado online dos Estados Unidos está entre os mais importantes do mundo e o país é o mais sujeito às violações de privacidade, preocupando mais da metade dos internautas estadunidenses. No primeiro semestre de 2022, foram reportados 817 incidentes de violação de dados, afetando 53 milhões de pessoas.

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O caso mais notório de mau uso de informações privadas foi o escândalo da empresa britânica Cambridge Analytica, que coletou, sem autorização, dados pessoais de 87 milhões de usuários do Facebook e os usou para a divulgação direcionada de propaganda política na campanha eleitoral dos Estados Unidos de 2016 – com o objetivo de favorecer a eleição do ex-presidente Donald Trump. A Cambridge Analytica foi penalizada pela justiça inglesa. O Facebook recebeu multa recorde de 5 bilhões de dólares da Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos, que terminou em dezembro de 2022 com a Meta pagando 725 milhões de dólares em acordo judicial, a título de indenização pelos danos causados.

Todavia, com o avanço do mundo eletrônico e da Inteligência Artificial (IA), outras formas de invasão de privacidade surgiram, novamente pela exposição de pessoas e empresas no uso da IA Generativa e recursos tecnológicos que permitem clonar – com alta precisão em áudio e vídeo – pessoas gerando na deepfake falas e imagens que nunca existiram.

Na interação com as ferramentas da IA, as perguntas feitas pelos usuários aos chatbots como o ChatGPT da OpenAI, bem como a entrega de códigos de programação para revisão ou aperfeiçoamento pelos algoritmos da IA, transferem conteúdo e informações ao domínio das plataformas. Isso levou à proibição do uso do ChatGPT por parte de algumas empresas como Samsung, JPMorgan, Bank of America, Goldman Sachs e Citigroup e a Apple, também por razões de competição. Governos atuaram no banimento desse aplicativo, como ocorreu na Itália.

Entretanto, como tudo no mundo da tecnologia tem seus contrapontos, estão surgindo novas formas de comercialização de dados das pessoas com a IA. A startup israelense Hour One está comprando rostos de pessoas reais, para criar personagens gerados pela IA, que são utilizados em vídeos educacionais e de publicidade. A empresa informa que já conta com uma lista de 100 imagens compradas – e outras em fila de espera, e busca diversidade de raça, etnia, idade e gênero. Como resposta aos questionamentos de privacidade e ética, a Hour One garante que rotulará os vídeos criados com marcas d’água informando que se trata de imagens geradas pela IA.

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Outra utilização controversa da IA é a recriação de celebridades mortas. Recentemente, o comercial da Volkswagen, em comemoração dos 70 anos da Kombi no Brasil, causou polêmica nacional por utilizar imagens de Elis Regina, falecida há 41 anos, interpretando a música “Como nossos pais” do compositor Belchior junto com sua filha, a também cantora Maria Rita. O filme utilizou uma dublê e imagens criadas pela IA, com um algoritmo treinado exclusivamente para reconhecimento facial de Elis. A obra foi aplaudida por muitos pelo belo resultado audiovisual e a memória afetiva despertada, porém foi criticada por especialistas e publicitários, questionando a invasão da privacidade de alguém que já não tem mais o arbítrio de sua própria imagem, mesmo que consentida e com geração de direitos autorais para a família. Um dos questionamentos foi: Se estivesse viva, Elis Regina concordaria em participar desse comercial para uma montadora de veículos?

Todos os pontos acima nos fazem refletir sobre mudanças culturais advindas da tecnologia e conduta ética em seu uso, pois colocam em risco a privacidade das pessoas na era da tecnologia digital, gerando demandas de responsabilidade no desenvolvimento e utilização das ferramentas de IA e na necessidade de incluir na regulamentação da IA – e até nos testamentos – cláusulas de privacidade post-mortem, além de normatização sobre os direitos autorais de imagens e vídeos criados pela IA com pessoas mortas.

A educação sobre a preservação da privacidade também deve ser considerada nesse contexto. A gestão de privacidade é uma questão psicológica que envolve confiança e riscos na tomada de decisões de uso dos recursos tecnológicos, conforme opina o psicólogo inglês Alan Smith, no blog Psyvacy. Ele argumenta que “o grau de propriedade que sentimos sobre nossos dados é um forte indicador de quão dispostos estamos a vendê-los. Portanto, se você está tentando fazer com que as pessoas melhorem sua postura de privacidade, concentre-se em criar esse senso de propriedade, porque garanto que as empresas estão tentando eliminá-lo. A confiança na empresa e na plataforma faz parte do processo de entrega de informações por parte dos usuários”.

Assim, nessa nova era, as organizações e seus Conselhos de Administração necessitam de um posicionamento claro sobre esse tema relevante, que exige redefinir regras de compliance e criação de uma cultura de privacidade cibernética, para preservação de sua imagem e reputação, bem como orientação de conduta aos colaboradores e demais stakeholders.

Nota: Este artigo não foi escrito pela IA.

Durval Jacintho é Engenheiro Eletrônico e Mestre em Automação Industrial pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e consultor internacional em tecnologia pela DJCon, com 37 anos de experiência C-Level no mercado de tecnologia e telecomunicações. Conselho de Administração certificado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e membro da Comissão de Ética do IBGC e da Comissão de Inovação do Capítulo São Paulo Interior. Integra o Comitê de Gestão do Hub da Gestão e o Chief.group. Contato no LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/durval-jacintho

Fonte: Mondoni Press

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