Mariel Reyes Milk, fundadora e CEO da {reprograma}, explica a importância do posicionamento feminino no setor de tecnologia e traz cases de mulheres que se destacam na área
O empoderamento feminino tem ajudado uma das áreas mais conhecidas pela presença masculina, a da tecnologia. A participação das mulheres no setor de T.I, nos últimos cinco anos, cresceu 60%, de 27,9 mil mulheres para 44,5 em 2019, segundo o levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.
Para a economista peruana e CEO da {reprograma}, startup social paulista que ensina programação para mulheres em vulnerabilidade, preferencialmente trans e/ou negras, Mariel Reyes Milk, o termo empoderamento no público feminino está diretamente ligado a uma consciência coletiva por parte das mulheres, no qual é constituído por ações que são tomadas para que elas não se sintam inferiorizadas pelo gênero.
É importante mencionar que o empoderamento só é possível quando existe representatividade, sororidade e colaboração. A partir dessas contribuições, as mulheres recebem um apoio importante para que conquistem seus espaços.
“Essas conquistas estão relacionadas ao trabalho e, consequentemente, à independência financeira, pois as mulheres que não dependem financeiramente de seus parceiros ou de qualquer outra pessoa possuem mais liberdade de escolha”, explica Reyes.
Atualmente, as mulheres somam 20% dos profissionais de tecnologia do país, de acordo com o IBGE.
Setor de tecnologia
O setor de tecnologia da informação é um dos que mais cresce no Brasil, representando assim uma porta de entrada para as mulheres que buscam por independência financeira. Porém, dados apontam que é necessário superar alguns números preocupantes. De acordo com o levantamento do Censo da Educação, a cada dez formandos em cursos superiores na área de tecnologia, apenas duas são mulheres.
O empoderamento feminino entra como peça chave em meio a esse cenário, iniciativas como a da {reprograma} e outras comunidades que visam incentivar a participação de mulheres na área, e principalmente por políticas inclusivas das empresas, contribuem bastante para diminuir a lacuna de gênero no setor de T.I. Afinal, limitar a área de atuação para o homem faz com que todos percam, sobretudo, o próprio setor.
Para Mariel, é importante garantir um ambiente favorável para que o público feminino possa desenvolver suas habilidades e competências, desta forma, ações serão criadas para discutir de maneira saudável esse assunto no ambiente de trabalho, revendo processos e estimulando a equidade de gênero, por exemplo.
Até 2024, haverá a criação de aproximadamente 420 mil novas vagas de emprego na área de tecnologia, segundo o Banco Mundial. Com isso, podemos pensar que se há pouca participação feminina nos cursos de tecnologia, possivelmente, elas irão aproveitar menos essas vagas que estarão disponíveis no mercado de trabalho.
“Há pouco tempo, as mulheres eram incentivadas a procurar uma profissão nas áreas de humanas e biológicas, enquanto a área de exatas era indicada apenas aos homens. É necessário que elas superem comunidades machistas, dentro e fora das empresas, além disso, acreditar que a tecnologia também é o lugar delas, um ambiente que elas poderão continuar aprendendo e crescendo”, explica a CEO da {reprograma}.
É muito importante que as mulheres incentivem umas às outras a fazer parte desta área, com isso, novas referências femininas serão vistas para que o público feminino possa se identificar e se inspirar.
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Oportunidades na área de T.I
De acordo com Reyes, as mulheres, em geral, precisam entender que elas são capazes de aprender qualquer coisa, inclusive a programar. Além disso, elas podem desenvolver uma carreira como programadoras e têm todo o direito de fazer parte do setor de tecnologia da informação, desta forma muitas conseguirão se destacar na área.
A {reprograma} desenvolveu o projeto “Todas em Tech”, para que as mulheres possam usar a tecnologia para mudar vidas e criar um impacto positivo no mundo. Com isso, o objetivo é ensinar programação e dar oportunidade de um futuro melhor, por meio da tecnologia, para mulheres que estão em situação de vulnerabilidade social, econômica e gênero, preferencialmente trans e/ou negras.
Até 2020, a {reprograma} investiu, juntamente com o apoio de empresas parceiras, mais de dois milhões de reais em seus projetos. Entre 2021 e 2022, a startup terá um investimento de mais de quatro milhões de reais no programa Todas em Tech, projeto com duração de 24 meses, que vai contar com a participação de aproximadamente 2,4 mil mulheres.
O novo projeto, que tem como parceiro o BID Lab, Laboratório de Inovação do Grupo Banco Interamericano de Desenvolvimento, irá destinar no mínimo 55% das vagas para mulheres negras e 5% para mulheres trans. Além disso, outras empresas fazem parte desse leque de colaboração, como Accenture, Creditas, Facebook e iFood.
Com a passagem pela {reprograma}, três ex-alunas contam como passaram por esse processo de conquista da independência e empoderamento na área da tecnologia. Abaixo, conheça cada uma delas:
Josiane Santiago, 53 anos, de São Paulo
É uma mulher negra, mãe e da periferia de São Paulo que não se sentia valorizada na sua profissão de fisioterapeuta, onde o salário máximo era em torno de R$2.000,00. Com um filho de 11 anos, tinha o sonho de conseguir uma vida boa e confortável para a família e sabia que a tecnologia era o caminho.
Em dezembro de 2019, ela se formou em programação front-end, na {reprograma}, e em janeiro de 2020 já estava empregada no UOL. Até o momento, não parou de estudar e se desenvolver. Hoje, ela ocupa a cadeira de engenheira de software na CI&T.
Bárbara Fraga Aguilar, 31 anos, mulher negra de Minas Gerais – Belo Horizonte
Durante sua formação, sempre ficou clara sua vocação de inspirar e liderar outras mulheres. Após a conclusão do curso, Bárbara ingressou em uma grande empresa de tecnologia e além de se tornar professora na {reprograma}, também fundou o grupo Kilombo Tech que tem o propósito de combater o racismo através da tecnologia.
Luiza Araújo, 26 anos, mulher trans, São Paulo
Luiza viu na tecnologia um caminho para mudar sua vida. Em suas palavras:
“foi minha porta de entrada para a tecnologia – como mulher trans, fui cozinheira por vários anos para não me tornar prostituta”. Hoje, ela ocupa o cargo de Analista de Dados, na Idwall.
Até o momento, mais de 700 mulheres já se formaram em cursos de back e front-end da startup paulistana.