Ao fazer parte de iniciativas voltadas para Tecnologia, é possível aprender habilidades técnicas e comportamentais importantes para o setor, além de encontrar uma comunidade engajada de colegas e profissionais como referência
O Brasil possui 8,6 milhões de desempregados, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a PNAD Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para alguns, uma maneira de driblar esse número é tentar uma carreira na área de Tecnologia, já que sobram oportunidades, mas faltam profissionais capacitados. De acordo com o estudo Panorama de Talentos em Tecnologia, feito pelo Google for Startups com o apoio da Abstartups e da Box 1824, desde 2021 até 2025, aproximadamente 53 mil profissionais irão se graduar em Tecnologia, em diferentes áreas. Contudo, a demanda projetada é de 800 mil profissionais, o que está gerando um déficit de 530 mil talentos durante estes quatro anos. Dessa forma, apostar em setores de TI no currículo, como cloud computing, pode ser um diferencial competitivo interessante.
“Com a crescente adoção de serviços em nuvem por empresas de todos os setores, há uma demanda crescente por profissionais capacitados em cloud. Além disso, a nuvem é uma tecnologia em constante evolução, o que significa que os especialistas em cloud têm muitas oportunidades de desenvolvimento de carreira”, explica Ana Letícia Lucca, especialista em Estratégia de Carreira, que destaca que, para atuar com computação em nuvem não é preciso cursar uma universidade. “Para ingressar na área de cloud é preciso ter conhecimentos comprovados através de cursos ou certificações na área”.
Ana Letícia também é CEO da Escola da Nuvem, uma organização social sem fins lucrativos cujo propósito é capacitar jovens a partir de 16 anos e em situação de vulnerabilidade social para carreiras em cloud computing. Lá, os alunos selecionados passam por trilhas de aprendizado em habilidades técnicas e comportamentais, além de receberem acompanhamento de carreira para conseguirem o primeiro emprego na nuvem em vagas de entrada. “Nossa metodologia contempla, além da parte teórica, uma prática muito próxima ao que os alunos encontrarão no mercado. Temos a preocupação em deixá-los o mais preparados possível para a realidade”, explica Ana.
Como são as aulas na Escola da Nuvem?
Josely Castro é instrutora de habilidades técnicas na Escola da Nuvem e ensina Fundamentos AWS aos alunos. Antes de assumir a posição, ela também passou pela trilha de aprendizado da Escola, sendo hoje ex-aluna. “Como professora, a Escola me deu a oportunidade de repassar tudo o que eu aprendi durante o curso. Aceitei esse desafio e gostei muito”, conta ela, que dá aulas tanto para pessoas que já são familiarizados com a área de Tecnologia, quanto para aquelas que não conhecem o setor ou que estão em transição de carreira. “Para os alunos que estão migrando de área, que nunca pensaram em se tornar profissionais de Tecnologia, existe uma certa dificuldade de entender termos técnicos, então eu analiso a aula e tento destrinchá-la para que eles entendam e se sintam à vontade. Também procuro deixá-los preparados para o mercado. Eles têm que olhar com os próprios olhos, mas eu também trago a minha visão”, explica.
Leia também: Mais do que usar tecnologias como processo de aprendizagem, edtechs surgem para revolucionar a educação
De acordo com Josely, “a área de Tecnologia não é fácil, mas não se pode desistir. A transição [de carreira] pode ser rápida, mas também pode demorar. Cada um tem o seu tempo, a sua história, uma facilidade ou dificuldade para entender certo assunto. Então, eu tento deixá-los tranquilos quanto a isso. Conto um pouco da minha história, dou exemplos de pessoas que eu conheço que fizeram essa mesma transição e hoje estão trabalhando na área de Tecnologia; de pessoas que não desistiram por conta das dificuldades. Porque existe, sim, uma dificuldade. É difícil, e eu falo muito isso para eles, porque quero que entendam que não vai ser fácil, mas que é muito bom quando você faz o que você gosta”, comenta.
E, embora existam iniciativas que visam driblar este cenário, ainda existem barreiras para o ingresso na área de Tecnologia, como a própria inclusão das pessoas em situação de vulnerabilidade, pessoas negras e mulheres, principalmente no momento da contratação. De acordo com a pesquisa #QUEMCODABR, a proporção de pessoas brancas na área da Tecnologia é maior em comparação com a sociedade brasileira. Enquanto menos da metade da população é branca (45,2%), a área de Tecnologia é composta majoritariamente por pessoas dessa cor (58,3%). Já quando pensamos nas pessoas negras, elas representam 53,9% da população, mas compõem apenas 32% da área de Tecnologia. Além disso, ao analisar a diversidade das equipes de tecnologia, percebe-se que em 32,7% delas não há nenhuma pessoa negra. E em 68,5% delas, as pessoas negras representam o máximo de 10%. Os dados foram coletados entre novembro de 2018 e março de 2019.
Para Josely, apesar das dificuldades, é possível “se alimentar com elas e a partir disso crescer. Quando você ultrapassa uma dificuldade, consegue se tornar um profissional melhor, mais requisitado no mercado de trabalho e só vai subindo a escadinha”, comenta, destacando a importância de estar perto de profissionais que trilham o mesmo caminho que se deseja alcançar.
“Na Escola da Nuvem você encontra muitos e bons desafios, além de pessoas que realmente gostam do que fazem e estão ali para transmitir conhecimento, compartilhar um pouco da própria trajetória. E muito conteúdo prático, muito conteúdo que nenhum curso pago vai dar. Para mim, a melhor parte é ajudar uma pessoa a se desenvolver, a crescer como pessoa, principalmente porque lá na Escola da Nuvem temos aulas de soft skills também”, finaliza a instrutora. Dentre as habilidades pessoais de um profissional de Tecnologia estão comunicação e escuta ativa, capacidade de liderança, entusiasmo para a criatividade, inovação e experimentação, observação crítica e gosto pelo trabalho em equipe.
Fonte: Mondoni Press