*Por Guilherme Medeiros
Segundo um estudo divulgado pela empresa Netscout, entre janeiro e o início de agosto de 2021, o Brasil ultrapassou a marca dos 439 mil ciberataques, alcançando a segunda posição no ranking mundial dos maiores alvos de ataques cibernéticos. Certamente, o aumento do número de investidas deve-se à expansão do mercado global em torno do digital. Porém, você já parou para pensar porque o Brasil aparece neste índice frente a potências como Reino Unido, Coreia ou mesmo, China?
Dentre diversas razões que podem ser citadas, a que mais me chama a atenção são os processos de Quality Assurance (QA) adotados no Brasil, que possivelmente encontram-se em defasagem em relação a outros países. Atualmente, o Brasil é lento na implementação de metodologias e ferramentas de desenvolvimento, falta planejamento e há necessidade de disciplina em nível adequado para assegurar a qualidade e a segurança dos sistemas. Neste ponto, é necessário destacarmos que o Brasil também carece de adoção de melhores práticas de testes de softwares.
Isso ocorre porque o “time-to-market” está cada vez mais valorizado, levando as empresas brasileiras a direcionarem as atividades e entregas pelo custo e prazo, priorizando o tratamento de questões funcionais e estéticas, mas esquecendo-se de aspectos de segurança e performance.
Essa pressão por entregas mais rápidas, que gera a necessidade do desenvolvimento acelerado, somada à falta de estrutura das equipes de TI e ao pouco conhecimento prático e teórico, acarreta a negligência em etapas como as de definição de requisitos não-funcionais, aplicações de políticas de segurança, testes e gerenciamento da qualidade. Certamente, isso pode resultar em aplicações com brechas de segurança, tal conduta não apenas favorece os ataques cibernéticos, como também dá origem a altas despesas com manutenções corretivas e emergenciais.
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Além de viver uma posição subordinada às tecnologias de desenvolvimento de software, pois as principais plataformas e frameworks são originados na América do Norte e Europa, o Brasil, no que diz respeito a QA, mantém uma taxa muito maior de desperdícios e gastos com retrabalhos em proporção a outros países. Ademais, o Brasil também apresenta tardamento na inovação em relação ao processo de desenvolvimento e, embora existam louváveis exceções, não desempenha o papel de produtor de conhecimento na área da Tecnologia da Informação.
Neste passo, nossas empresas ficarão cada vez mais expostas e terão a credibilidade e imagem afetadas perante aos clientes, aspecto que impactará diretamente na perda de negócios e nos deixará atrás dos concorrentes internacionais, que verão mais espaços para entrar e se estabelecer em nosso mercado.
Para mudar este cenário, é primordial que as companhias compreendam que é chegada a hora de transformações. É crucial modernizar a visão que tem-se não apenas das práticas de testes de software como de todos os processos de qualidade. É preciso inovar focando na experiência do usuário, na velocidade de entrega, porém sem jamais abrir mão da qualidade, da confiabilidade e estabilidade das operações do negócio. Testes e qualidade de software devem ser cada vez mais temas estratégicos para garantir a sustentabilidade e reputação das marcas num contexto cada vez mais digital.
*Guilherme Medeiros é Diretor de Operações da Prime Control