*Por Diogo Lupinari
Uma das principais preocupações de quem empreende com tecnologia no Brasil é encontrar recursos financeiros que sustentem o crescimento da empresa. Há diversas fontes disponíveis atualmente: investidores-anjo, venture capitals e até financiamentos coletivos on-line. Cada uma dessas modalidades atende a objetivos, etapas e perfis distintos. Para as já consolidadas, outra forma começa a ganhar corpo no Brasil (ainda que timidamente): a bolsa de valores, ou seja, abrir o capital a fim de que diferentes investidores possam comprar ações e, assim, levantar uma boa quantia para investir no negócio.
Isso se dá por um processo conhecido como IPO (initial public offering, ou oferta pública inicial), que é basicamente a venda inicial de ações. Recentemente, três empresas ligadas ao universo de tecnologia no Brasil se prepararam para entrar na B3: o brechó on-line Enjoei, a loja virtual de vinhos Wine e a gestora de cupons de desconto e cashback Méliuz. A tendência é atrair mais empresas de soluções tecnológicas, uma vez que dados da operadora da bolsa no Brasil mostram que já foram levantados mais de R$ 66 bilhões em vendas de novas ações apenas em 2020, com previsão de ultrapassar a marca de R$ 90 bilhões registrados em 2019.
Não se trata de novidade, evidentemente. A B3 já tem opções interessantes de empresas no setor de tecnologia, como a Totvs, Linx, Sinqia e B2W. Além disso, há outros nomes do varejo que estão cada vez mais próximos da área de TI, como a Magazine Luiza. Nesse sentido, é preciso reconhecer que o e-commerce, ainda que na teoria seja um canal de vendas do varejo, na prática as maiores operações têm tanta maturidade na aplicação de soluções tecnológicas que seria injusto não caracterizá-las como tech players. Como se vê, a modalidade está atraindo mais empresas, mas de fato já existia há algum tempo.
É um movimento diferente do realizado por outras empresas brasileiras de tecnologia, que fizeram IPO na Nasdaq, a bolsa de valores norte-americana voltada ao universo tech. Afinal, nem todo negócio tem pretensão ou característica para se tornar global. Muitas startups surgem para atender a mercados locais e virarem líderes apenas naquele território. Além disso, ainda que o volume de investidores na B3 seja uma fração ainda pequena, nota-se um crescimento constante de novas pessoas que aplicam na bolsa – o que certamente atrai empresas interessadas em ampliar seus investimentos.
No fim, é uma forma a mais de lidar com o problema citado no início do texto. As startups precisam ter acesso a capital para crescerem. Dependendo do estágio de maturidade do negócio, existem opções que podem fazer mais sentido tanto para o empreendedor quanto para os investidores. Os venture capitals, por exemplo, já são uma forma de disponibilizar capital maduro às empresas de tecnologia, uma vez que os mecanismos de acesso a esse recurso, as faixas de valores e a necessidade de maturidade da companhia são variáveis conhecidas e difundidas.
No caso da bolsa de valores, o mercado de tecnologia ainda precisa lançar mais empresas para que esse caminho seja tão popular quanto as demais opções. Porém, o primeiro passo já foi dado com a entrada dessas novas companhias na fila de espera para fazer IPO na B3. Elas terão o desafio de abrandar o espírito dos investidores e mostrar que o mercado de tecnologia, apesar de se transformar constantemente, também pode ser bem lucrativo.
*Diogo Lupinari é CEO e cofundador da Wevo, empresa especializada em integração de sistemas e dados.